Por trás da objetividade do Washington Post – Crônica


Um jornal que no passado derrubou o presidente, na gestão Donald Trump foi intensamente questionado sobre os princípios de objetividade que vinha perseguindo, “Nós não estamos em guerra contra o governo. Estamos fazendo nosso trabalho”, disse o então editor-executivo do jornal The Washington Post, Martin Baron. Para muitos jornalistas americanos, contenção e equilíbrio não eram suficientes, era necessário naquele momento produzir um jornalismo engajado e combativo, visto que, o comportamento do presidente provocava uma ameaça à democracia. 

Recém-lançado nos Estados Unidos, o livro “Colisão de Poder – Trump, Bezos, e o Washington Post”, com as memórias de Martin Baron, mostra as intimidações do presidente Trump contra a mídia; o choque da nova geração com princípios jornalísticos estabelecidos; e a compra do estimado jornal americano pelo dono da Amazon, Jeff Bezos. Esse negócio foi como se o dono da Brascon comprasse o Diário Popular. Criou incertezas na redação sobre as intenções de Bezos com sua recente aquisição. Porém, o bilionário injetou dinheiro e tecnologia, o jornal teve um salto em circulação digital, receita e contratação de jornalistas.

A frente da edição do Post, Baron teve que lidar com a visão de jornalistas mais jovens que achavam impossível deixar de lado suas opiniões e convicções ao cobrir assuntos como racismo, a comunidade LGBTIQIA+ e assédio sexual. Eles manifestaram que, a objetividade, historicamente, excluiu visões marginalizadas da sociedade. O embate se deu quando repórteres não seguiram as regras do jornal de comportamento nas redes sociais, expressando no Twitter suas opiniões sobre assuntos que estavam cobrindo. Para o editor, “opinar ou fazer ativismo sobre temas da cobertura compromete a credibilidade dos jornalistas e do jornal”.

No artigo de Baron, “Queremos juízes e médicos objetivos; por que não jornalistas?”, publicado na Folha de São Paulo em abril deste ano, o jornalista defende que todos os profissionais, naturalmente, precisam ser objetivos para exercerem suas atividades com honestidade. Reforça, “a busca pela objetividade em todas as profissões, nasce do reconhecimento crescente de que as pessoas estão cheias de vieses, muitas vezes inconscientes”. Sua defesa é direcionada para o trabalho com método consistente de testar informações, uma abordagem transparente das evidências, para que os vieses pessoais e culturais não prejudiquem o papel social do jornalismo. 

246lucian@bol.com.br

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