O Papel do Jornal em época de pandemia – Crônica por Lucian Brum


Arte: Felipe Thofehrn

Teve quem ficou escorado na cortina do Aquários, depois de ter caminhado quatro quadras a mais para comprar um jornal. Com as bancas e revistarias fechadas, os exemplares de domingo foram disputados nas fruteiras e postos de gasolina. Não há nada melhor do que em uma tarde de folga, após o almoço, acender um Romeo y Julieta Cedros número 2 (quando se tem uns pilas economizados), ler algumas notícias e cair no sono.

Com o comércio fechado em razão da pandemia do coronavírus, poucos lugares na cidade seguiram vendendo jornal. Acabei desistindo, nessa coleção, de reunir os selos do Junte & Ganhe do Diário Gaúcho. Apesar de ter saído moderadamente às ruas durante a quarentena, os estabelecimentos estavam irregulares nos horários de atendimento e no recebimento do papel-notícia.

O país enfrenta uma crise sem precedentes, e suas consequências não demoraram a chegar aos jornais da Região Sul. O jornal Agora, encerrou suas atividades, seis meses antes de completar 45 anos. Com a suba do dólar em escala amazônica, o preço da impressão ficou inviável. A comunidade de Rio Grande, ficou sem referência de informações chanceladas por um cabeçalho.

Em Pelotas, deve ter juntado pilhas de edições que não venderam, pois nessa levada o Diário Popular fechou sua gráfica. Terceirizou a impressão para rotativa do Grupo RBS. E enxugou seu quadro de colaboradores. A qualidade do papel e da impressão ficou excelente. Bom para publicidade. Já se observa a cor e a diagramação com outro entrosamento. Manuseando o jornal no meio da fumaça, lembrei da frase do Dines: “Processo de comunicação não se interrompe; consegue-se reorientar o seu sentido. A crise do papel não liquida os jornais, apenas os transforma”.

Texto: Lucian Brum
Arte: Felipe Thofehrn

Arte: Felipe Thofehrn

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