Pelotas (RS) se despede de I Encontro Regional de Agentes Territoriais de Cultura do Sul

Evento, que ocorreu de 20 a 22 de agosto no IFSul, foi realizado pela instituição em parceria com o MinC e serviu de antessala para grande evento nacional que vai reunir mobilizadores culturais em Brasília (DF)

Encerrou-se em grande estilo, na noite de sexta-feira (22), em Pelotas (RS), a programação do I Encontro Regional de Agentes Territoriais de Cultura do Sul, que reuniu diferentes mobilizadores dos estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul para um momento de formação, debate, troca de experiências, oficinas e discussão sobre os rumos do projeto, que é vinculado ao Programa Nacional dos Comitês de Cultura (PNCC), do Ministério da Cultura (MinC), e mantém 103 bolsistas na região Sul.

O trabalho do grupo consiste no compromisso de dedicar 20 horas por semana a atividades do PNCC, que englobam estudo e formação inicial continuada, planejamento com foco na atuação em território, vivências, articulação e mobilização, sempre com o objetivo de alcançar uma maior profissionalização do trabalho artístico. Em troca, cada agente territorial de cultura recebe uma bolsa de incentivo ao trabalho e precisa desenvolver ações culturais focadas em atender as comunidades e territórios nos quais atuam. A intenção do projeto, que começou em 2024 e termina em 2026, é capilarizar e democratizar o acesso às políticas culturais no Brasil, por isso o PNCC conta com bolsistas de diferentes perfis e subáreas da cultura.

O evento de Pelotas, que percorreu três dias de programação entre a última quarta (20) e esta sexta (22), foi sediado pelo Instituto Federal Sul-Rio-Grandense e envolveu bolsistas do projeto de distintas linguagens da cultura, como dança afro, hip-hop, produção e gestão culturais, entre outras. A agente Ana Paula Frazão, de Curitiba (PR), chama a atenção para a importância subjetiva do trabalho de todos aqueles que ajudam a mover a engrenagem do setor cultural, especialmente os bolsistas do projeto, que atuam de forma localizada e, portanto, levam ações culturais a lugares muitas vezes desprivilegiados pelas políticas públicas, sobretudo as periferias da região Sul.

“Nossa importância está no fato de que criamos capital simbólico. O que a gente faz é fundamental para que as pessoas possam entender a forma como elas se relacionam com o mundo. Nós fazemos as pessoas entenderem a vida de outra maneira, criamos outras possibilidades para elas”, ressalta Ana Paula.  

Na mesma sintonia, a mobilizadora Priscila Couto dos Santos, que atua como bolsista do projeto em Pelotas (RS), destacou que as vivências ocorridas no evento foram “revigorantes”. “Acho que este encontro já está me movimentando de várias formas. Isso tudo nos impulsiona para seguirmos neste caminho da cultura, que é tão revolucionário”, afirma.

A fazedora de cultura Jéssica Viganó, que tem atuação em Vacaria (RS), também disse fazer um balanço positivo do evento, ocasião em que pôde interagir com artistas de vários pontos da região Sul e com a cultura local. “Achei o encontro fantástico, ainda mais por ter sido em Pelotas, esta região que tem um histórico de cultura negra”, exclama.

De olho no horizonte

Professora do IFSul e coordenadora do projeto na região Sul, Sandra Corrêa Vieira pontua que o evento de Pelotas tende a gerar frutos adiante. “Os agentes fizeram uma imersão profunda na programação, tiveram mais espaços de formação profissional, oficinas, entre outras coisas. Foi algo que certamente vai ter resultados muito positivos nos territórios onde eles atuam porque esse tipo de experiência ofertada aos trabalhadores da cultura amplia a bagagem profissional deles e, com isso, ajuda a transformar para melhor as políticas dirigidas aos territórios e comunidades.”  

O I Encontro Regional de Agentes Territoriais de Cultura do Sul marca o fim de um ciclo de cinco eventos regionais realizados pelo PNCC no país com o objetivo de amadurecer e discutir os rumos dessa política pública a partir de uma interação mais direta com os agentes a ela vinculados.

Mesa de encerramento do evento contou com autoridades locais e nacionais (Foto: Geovane Corrêa)

Nesse sentido, a coordenadora-geral dos Comitês de Cultura, Mirela Araújo, avalia que o encontro de Pelotas foi de grande valia para aprimorar a construção coletiva do PNCC, iniciativa inédita no país que vem ganhando corpo a partir do trabalho de 24 comitês locais e de mais de 600 agentes territoriais de cultura espalhados pelo Brasil.

“Tivemos manifestações muito importantes sobre a importância da formação, da cultura e da educação como instrumentos de transformação, mas também sobre ajustes necessários a esta construção. Outro tópico que apareceu muito e que é muito importante para o programa diz respeito à importância da diversidade e da necessidade de representatividade, assim como a ideia de construção coletiva das políticas públicas. Isso mostra o grau de maturidade dos agentes da região Sul no que se refere ao conhecimento dos seus direitos culturais e à participação social nas políticas.”

A gestora destaca ainda que o evento de Pelotas não apenas encerrou com maestria o ciclo de eventos regionais do PNCC, contribuindo para uma maior maturação do projeto, como também abriu caminho para a elaboração do encontro nacional, a ser realizado em Brasília (DF). “Acho que encerramos com chave de ouro e abrimos, também com chave de ouro, a produção que vai começar agora para o encontro nacional. Foi tudo muito produtivo.” 

Atividades culturais reuniram agentes territoriais de cultura dos três Estados do Sul (Foto: Valder Valeirão)

A secretária de Articulação Federativa e Comitês de Cultura do MinC, Roberta Martins, pontua que o trabalho dos agentes territoriais de cultura contribui positivamente com o país de diferentes formas, inclusive na defesa do sistema democrático. “A democracia brasileira também se faz dos fazeres culturais. A cultura é proposição estética, de resistência e de narrativas democráticas para este país. A liberdade, para nós, é qualificada na liberdade de fazer, de fruir, de estar e de se organizar no meio cultural. A censura não pode estar no nosso seio. MC não é bandido, sambista não é bandido, tocador de tambor não é bandido, ninguém pode tirar esses princípios da cultura. E é assim que a gente vai ajudar e contribuir para que o Brasil permaneça soberano e defendendo a sua cultura”, ressaltou.

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