O ânimo da tinta de XATOR na exposição XATOERISM


“o graffiti nasceu como expressão para as pessoas mostrarem que estavam vivas,
eu procuro exceder o máximo de vida em meu graffiti”

Por: Lucian Brum

Brrrrr, brrrrr, brrrr, estava frio de renguear cusco, e logo no primeiro momento em que fui me ambientando no Vila Rica Empório, ofereceram uma dose de café passado na hora. O lugar recebe a exposição de artes visuais XATOERISM, do artista mais ousado de Pelotas. Em um primeiro olhar reparei que a tinta se mantinha dentro do limite dos quadros, não havia nas paredes tags ou dripping*, uma proposta diferente para quem enxerga a cidade como espaço a ser preenchido.

O artista assina seu graffiti como XATOR, e tem pintado o corpo da cidade com êxtase, desde empenas a tampas de bueiro, passando por tapumes, fachadas, portões… com spray e caneta-marcador, qualquer textura pode sofrer intervenção. Em sua exposição de desenhos, podemos enxergar conceitos que influenciam sua verve caótica.

São nove trabalhos, em técnica mista, sobre papel paraná. Destaque para seis imagens em série que mostram composições arquitetônicas, relacionadas com o imaginário deste ser urbano: placas, plantas, downtown, telhados, chaminés, alma latina, animais, rampas de skate – símbolos que contextualizam os quadros e orientam o observador para o discurso do artista, para sua visão de mundo.

 

Exposição XATOERISM no Vila Rica Empório. Foto: Lucian Brum

 

 

XATOR produzindo em seu atelier. Foto: Lucian Brum

 

“O cara vai envelhecendo e eu não me vejo parando de fazer tag, mas as vezes me pego pensando, será que vou ter 40 anos e ainda estar fazendo tag? Eu acredito que sim”, disse o artista em seu atelier, numa tarde em que o visitei durante a produção dos trabalhos para exposição. O notebook aberto passava no YouTube a sequência de vídeos da Pal Crew. A ponta da caneta chiava em atrito com papel. Bebíamos vinho branco e conversávamos sobre a profissão: “Consegui conquistar coisas que almejava com graffiti, consegui um patrocínio de tinta, fico feliz por isso”, sorriu, falando sobre o contrato com a Nou Colours. XATOR ainda ressaltou que como grafiteiro não deixa de tentar viver as raízes, de pintar em lugares que possam causar espanto pela dificuldade de acesso, deixando uma marca criativa no paisagismo urbano: “o graffiti nasceu como expressão para as pessoas mostrarem que estavam vivas, eu procuro exceder o máximo de vida em meu graffiti”.

 

Graffiti compondo a paisagem urbana. Foto: divulgação.

 

A exposição no empório é oportunidade para dialogar com a Cultura Urbana, aprender sobre suas motivações, e apreciar a crueza e honestidade dos trabalhos. Visto que, na tarde fria do vernissage, além do café, rolou um queijo em cubos com torradas, e hip hop com DJ Luan três-um-dois e DJ Cass, ou seja, uma confraternização para saudar a arte. Entendendo o esforço necessário para se manter no ofício, o artista otimiza: “Não é fazer para ver se vai dar certo, é fazer até dar certo”.

* Tag: assinatura que graffiteiro faz nas ruas. Dripping: tinta escorrida.

 

Serviço

O que: Exposição XATOERISM do artista XATOR
Quando: De 11 de junho à 11 de julho
Onde: Vila Rica Empório – Rua Antônio dos Anjos, 500 – das 10:00 às 19:00

Siga o artista no Instagram: @x.loremipsum

 

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