Três contra todos: um convite à empatia e a desmistificação do (poli)amor


You may say
I’m a dreamer
But I’m not the only one
I hope some day
You’ll join us
And the world will be as one.
(Trecho de Imagine, John Lennon)

Em meio a um momento caótico, em que o mundo clama por mais Amor e, se não clama, clamamos nós, como seres humanos, é que li Três Contra Todos.

O romance de estreia de Deco Rodrigues na literatura tem aquele quê de ficção no meio do realismo. Não apenas por se tratar de um livro inspirado em fatos reais, como o próprio autor deixa claro, mas o romance mescla diálogos das maneiras mais espontâneas e contemporâneas, visto que pequenas conversas ocorrem por mensagens de celular.

Foto: Giuliana Bruni
Foto: Giuliana Bruni

Falo, aqui, de uma história de amor e amizade entre três personagens: Rafaela, Lucas e Eduarda. A história é ambientada na cidade de Pelotas e, acompanhando a narrativa de Deco, senti, durante uma cena, como se estivesse bebendo no Papuera ao som de Beatles enquanto observava Rafaela e Eduarda conversando em uma mesa no canto do bar. Do outro lado vi Lucas, à espreita, olhando de longe para elas. Em outro momento os vi caminhar pela cidade e até os acompanhei com o olhar quando entraram na sorveteria. Uma cena excitante me levou ao quarto dos três, mas fiquei apenas espiando pela fechadura, e pude ver o quanto se divertiam juntos com a primeira experiência de Rafaela.

O que mais me instigou, em um primeiro momento, foi a espontaneidade e rapidez com que os primeiros acontecimentos foram desenrolando. Creio que isso seja um reflexo dos momentos que vivemos atualmente, as relações líquidas (leia-se Bauman), frágeis e, infelizmente, descartáveis em que, se algo “der errado” no primeiro momento, logo os envolvidos na relação desistem e partem para um nova relação, provavelmente frustados, mas fingindo felicidade. Diferente do que as páginas de Três Contra Todos me apresentou. Para quem pensa que a relação seria fugaz, o romance se desenvolve de forma a instigar o(a) leitor(a). Como não se encantar pela mulher empoderada que Eduarda é? E Lucas, o cara charmoso e modesto? E Rafaela, uma menina-moça que busca um pouco de liberdade no meio do caos diário? Os três iniciam um romance quando Rafaela se interessa por Eduarda ao mesmo tempo em que Lucas está encantado por Rafaela. Depois de uma conversa entre as duas no bar, Rafaela descobre que Eduarda está interessada em Lucas e, quando os três se conhecem, percebem que Lucas queria mesmo ficar com Rafaela. Parece confuso, mas a verdade é que eles acabam virando grandes amigos e se apaixonam de um jeito único.

Outro ponto que me intrigou foi perceber que deve ter sido difícil – para não dizer complicado – para o autor se colocar no lugar de duas mulheres e escrever com o ponto de vista destas personagens. Cada capítulo é uma versão, narrada em primeira pessoa, sobre algum acontecimento pelo foco narrativo de um dos três personagens. Algumas cenas deixam mais claras as questões de fantasias masculinas, mesmo quando as ações vem das mulheres.

O romance é alternado entre cenas de carinho e risadas altas, com cenas excitantes bem construídas. Os três vivem este poliamor de uma forma leve e brigam pouco ou quase nunca. Mas então surgem conflitos, que são agravados por Lucas ter um filho pequeno (Luan) e a sociedade começa a agir de maneira preconceituosa contra os três.

A partir disso, eles precisam encarar muitos problemas para conseguirem ficar juntos e ter uma vida “comum”. Olhares atravessados, falas rudes, entre outros comportamentos mostram o quão difícil é serem aceitos por manterem uma relação a três. Mas é a isso que este trio veio neste romance e é com esta arma que eles lutam o tempo todo: amor. Como cantaria John Lennon – cantor preferido de Lucas e Rafaela: All you need is love. E apesar da intolerância em relação ao tema intrínseca na pequena cidade – e no mundo – o trio, junto do pequeno Luan, tenta permanecer unido.
O resto, só quem pode revelar são as páginas cativantes de Três Contra Todos.

Texto e foto: Giuliana Bruni

Giuliana Bruni, jornalista. É amante da literatura, escrita criativa, jornalismo literário e cinema. Passeia entre a realidade e a ficção. Apaixonada por histórias, já produziu documentários, contos e poesias. É autora do blog Meu Mundo e as Palavras e uma das idealizadoras da página Pessoas de Bagé.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*